Professor da MIT Sloan School of Management, o psicólogo Edgar Shein, se propôs a um estudo longitudinal em que observou a carreira de 44 pessoas. Deste estudo, notou-se que os participantes endereçavam as suas carreiras norteados por um conjunto de fatores, ao que ele chamou de âncora de carreira. Ao todo são oito eixos principais que mapeiam o comportamento padrão diante das escolhas profissionais. Faça o teste aqui.
O instrumento se tornou uma ferramenta que eu gosto de utilizar nos processos de orientação profissional e de carreira, porque reúne afirmações bem no estilo teste de revista, em que a tarefa é atribuir uma nota para cada frase na medida em que o conteúdo se relaciona com sua vivência no âmbito profissional.
Em entrevista curtinha de três minutos, Edgar afirma que, com certa frequência, as pessoas se tornam analfabetas de si mesmas, e eu não poderia concordar mais. Este material que data da década de 70, ainda pode ser aproveitado para um exercício simples que é olhar para as escolhas que você fez, se perguntar o por quê delas e identificar o seu padrão de tomada de decisões.
Ok. Nem sempre é tão simples assim identificar seu padrão de escolhas, neste caso indico o meu atendimento em orientação profissional e de carreira. São doze sessões com duração de uma hora cada, os encontros são semanais e o impacto das reflexões vão ressoar por toda a vida. Falo sério, as pessoas me procuram anos depois para me contar como andar suas carreiras e exclamam: “até hoje eu penso nas epifanias que chegamos juntas”.
Você chegou no resultado que te mostra as duas principais âncoras da sua vida profissional. Muito bem, vamos ler as definições de cada uma, mas antes te convido a ir um pouco mais além, munido deste resultado, reflita sobre quais foram os fatores que exerceram e exercem influência nas suas decisões. A âncora aponta o que é prioridade na sua vida. E eu aproveito para te perguntar se o que você elenca como prioridade é resultado de escolhas autênticas, ou seja, que refletem verdadeiramente quem você é. Sabe do que mais? Não perca a oportunidade de também se perguntar se você sente pertencer a este lugar que ocupa hoje.
As âncoras podem se alternar ao longo da vida, a depender do seu contexto. Sou muito socilitada para acompanhar profissionais em transição de carreira e o truque mestre é identificar quais âncoras serão lançadas ao mar. Qual ambiente, ritmo, configuração de trabalho é compatível com quem você é ou deseja se tornar?
Eis as definições das oito âncoras listadas em ordem alfabética.
Autonomia e Independência – Pessoas com essa âncora vão buscar, com o passar do tempo, uma carreira que possibilite maior independência, que permite impor suas próprias condições. A autonomia é inerente a qualquer ser humano, em níveis diferentes, mas quem possui fortemente essa âncora sente a necessidade de ser dono de seu próprio destino, fazer as coisas do seu jeito, e por isso vai organizar sua vida profissional em torno de trabalhos que lhe proporcionem mais escolha e poder de decisão.
Criatividade Empreendedora – Nessa âncora estão os profissionais com tino para a criação de novos negócios e organizações. Não são pessoas necessariamente com criatividade artística, mas sim com um espírito empreendedor, que querem estabelecer ou reestruturar negócios próprios. Possuem motivação para, desde cedo, iniciar empreendimentos para ganhar dinheiro. Vale ressaltar que o enfoque aqui não é a busca por autonomia e sim pela criação de negócios.
Dedicação a uma Causa – Pessoas com essa âncora são orientadas em sua carreira por valores que querem imprimir em seu trabalho. Elas se voltam para os valores e se dedicam a causas, mais do que aos seus talentos e competências. São profissionais que querem, de alguma forma, contribuir para um mundo melhor por meio de seu trabalho.
Estilo de Vida – Muitas vezes interpretam essa âncora como sendo a de pessoas que não dão prioridade a sua carreira. Mas não se trata disso. A questão é que pessoas ancoradas pelo estilo de vida buscam encontrar uma forma de integrar todas as suas necessidades: individuais, de família e de carreira. Podem ser altamente motivadas pelo trabalho, mas entendem que ele deve se integrar a sua vida como um todo. São pessoas que querem, acima de tudo, flexibilidade. Por isso olham mais para a atitude da empresa do que para o programa de trabalho propriamente dito. A diferença para a âncora da autonomia é que elas se adaptam bem ao ambiente organizacional, com suas regras e restrições, mas querem ter opções mais flexíveis de trabalho.
Estabilidade e Segurança – Aqui se enquadram pessoas que precisam se sentir seguras no ambiente de trabalho. Elas buscam maior previsibilidade do futuro, querem “saber onde pisam”. São atraídas por empregos em empresas que oferecem essa estabilidade, com bons planos de aposentadoria e boa reputação. É essa estabilidade, principalmente financeira, que vai guiar a carreira desses profissionais.
Competência administrativa geral – Quem tem como âncora de carreira a competência administrativa geral busca, ao longo de sua vida profissional, atingir os mais altos níveis de responsabilidade na organização. São pessoas que visam a liderança e têm como motivação atingir o topo da hierarquia corporativa. Para elas, a especialização é uma armadilha: entendem a importância de conhecer as áreas funcionais, mas não buscam se aprofundar tecnicamente, pois querem a função de gerência geral.
Competência técnica/ especialista – Pessoas ancoradas neste elemento comprometem-se com uma carreira de especialização. Elas ficam motivadas quando são especialistas em um determinado assunto, buscam trabalhos desafiadores, querem testar o conhecimento e a habilidade que possuem em sua área de atuação. São pessoas que não visam altos cargos administrativos (essas normalmente são mais generalistas) e sim cargos de especialista em uma determinada área.
Desafio puro – Nessa âncora se encaixam profissionais que definem sucesso como a superação de obstáculos impossíveis ou como a capacidade de solucionar problemas insolúveis. São pessoas que necessitam sentir que podem conquistar qualquer coisa. A busca por desafios permeia a carreira da maioria das pessoas, mas para quem é ancorado no desafio puro, é o que norteia a sua trajetória – todas as suas decisões profissionais vão sempre ser com o objetivo de superar desafios cada vez maiores.
E aí, conseguiu se encontrar? Se você não está em processo de orientação profissional e acha que se beneficiaria, não hesite em me contatar. Agora se você gostou da experiência, indique este post para um(a) amigo(a). Pode ser que esta brincadeira seja útil para mais gente.